terça-feira, 15 de novembro de 2011

José Francisco Lacerda, o “Chico Diabo”

Coronel Joca Tavares (terceiro sentado, da esquerda para a direita) e seus auxiliares imediatos, incluíndo Francisco Lacerda, mais conhecido como "Chico Diabo" (terceiro em pé, da esquerda para a direita)


Por Cássio Lopes



José Francisco Lacerda nasceu no ano de 1848 no atual município de Camaquã. Como os seus pais eram pessoas de parcos recursos, ainda guri, conseguiu emprego em uma carniçaria de propriedade de um senhor de nacionalidade italiana no município de São Lourenço onde eram confeccionados produtos como salames, lingüiças, charque, etc... Tudo corria muito bem quando num determinado dia do ano de 1863, após o almoço, o seu patrão deixou-o cuidando a carniçaria e foi atender ao seu antigo hábito da sesta; por um descuido, um cachorro entrou no recinto onde estava guardada a carne para ser trabalhada e conseguiu roubar um pedaço; quando o patrão levantou, Francisco, imediatamente, comunicou-lhe do acontecido o que provocou uma forte reação do italiano manifestada por uma impar xingada no moço que, diante da inusitada situação, disse-lhe que iria embora para a casa dos pais; porém, o colérico senhor retrucou-lhe dizendo que o mesmo não sairia dali sem, antes, apanhar uma surra; após essas palavras, encerrou-o na carniçaria, atou a porta da mesma com um tento e, com um relho, começou a bater-lhe ao redor de uma mesa de trabalho onde Francisco corria procurando defender-se sem sucesso. Em dado momento, Chico conseguiu apanhar uma faca, tipo carneadeira, que havia sobre a mesa e investiu desesperadamente contra o seu agressor atingindo-o mortalmente no abdômen; quando o moço percebeu que havia morto o seu patrão, tentou cortar as dobradiças da porta que eram de couro, mas, como estas estavam ressequidas, não logrou êxito, o que o fez cortar o tento que amarrava fortemente aquela abertura. Quando sentiu-se livre, imediatamente, fugiu para a casa de seus pais no município de Camaquã onde chegou a primeira hora da manhã do outro dia tendo, portanto, caminhando a pé, toda a tarde e toda a noite; é nesse momento que José Francisco Lacerda recebeu o cognome de “Diabo” e o carregou por toda a sua existência. No momento em que os seus pais perceberam que vinha alguém atalhando o campo em direção a sua morada, tão cedo da manhã, antes de identificar de quem se tratava, a sua mãe teria dito: - “Garanto que é aquele “Diabinho” que vem vindo”! Esclarecidos os motivos da sua fuga, os pais providenciaram a imediata remoção de Chico Diabo para a propriedade do seu tio Vicente Lacerda em Bagé, onde chegou com 15 anos de idade. Em 1865, portanto, com 17 anos, quando uma força de “Voluntários da Pátria” passava pela residência do seu tio, o então Coronel Joca Tavares, que a comandava, convidou-o para integrar aquele contingente o que foi prontamente aceito, e o consentimento do seu tio Vicente Lacerda concretizou sua participação na Guerra do Paraguai onde celebrizou-se na história sul americana por haver lanceado, na virilha, o Ditador do Paraguai Francisco Solano Lopez, no dia 1º de março de 1870 no local denominado Cerro Corá (naquele país) pondo fim ao mais significativo conflito bélico da América do Sul. Embora tenha sido prometida uma quantia de 100 libras de ouro para quem matasse Solano Lopes, Chico Diabo recebeu, pelo serviço, 100 vaquilhonas. Trouxe consigo a faca de prata e ouro que usava Solano Lopes quando foi morto eis que as iniciais em ouro eram as mesmas suas FL (Francisco Lopes – Francisco Lacerda). 
                                                 Solano Lopes
                            Ilustração da morte do ditador Paraguaio

A história da lança que Chico Diabo usou na Guerra do Paraguai, encontra-se no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Esse personagem possuía uma fração de campo nas imediações da Encruzilhada onde residia. Ao retornar do Paraguai em 1871, casou-se com a sua prima Izabel Vaz Lacerda com a qual teve quatro filhos: Luiz, João Maria, Francisco Bino e Josefa que faleceu aos três anos de idade. Chico Diabo capatazeou a famosa Estância do Pavão, em Caçapava do Sul, época em que trouxe, de Camaquã, o seu irmão Anibal para ajudá-lo e só abandonou esse trabalho quando o seu filho João adoeceu gravemente e pediu-lhe que o trouxesse para a casa do Avô Vicente porque, ali, desejava morrer o que, felizmente, não aconteceu. Posteriormente, Chico Diabo foi capataz da Estância do Piraí. José Francisco Lacerda faleceu repentinamente no Uruguai em 1893 quando realizava um trabalho para o General Joca Tavares; nessa época, possuía uma economia de 90 contos de réis e estava adquirindo uma fração de 8 quadras de sesmaria no lugar onde, hoje, encontrava-se a Vila Malafaia. Após a sua morte, esse dinheiro foi repartido em partes iguais para os seus três filhos. Os restos mortais do Chico Diabo levaram muitos anos para chegarem ao Brasil e isto só foi possível porque sua esposa Izabel Vaz Lacerda pagou uma enorme quantia, em dinheiro, para um uruguaio roubá-los e, ao recebê-los, o identifcou por uma cicatriz de fratura que havia em uma das suas pernas. Os seus restou mortais estão sepultos, sob o piso da capela, no túmulo da família no Cemitério da Guarda onde foi colocada uma lápide, pelo núcleo de pesquisas históricas de Bagé no dia 30 de outubro de 2002 na presença de suas netas Silvina e Josefa Lacerda.

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