terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Tratado de Paz de Ponche Verde

Duque de Caxias em 1845

Por Cássio Lopes
Em 1842, foi nomeado Presidente e Comandante de Armas da Província do Rio Grande do Sul, Luis Alves de Lima e Silva, o então Barão de Caxias, em princípios de 1843, já andava nos arredores de Bagé, em perseguição aos farroupilhas, cujo combate sem tréguas se propusera.
A zona da Campanha era o teatro das principais operações militares, e desde Alegrete até Bagé, estendia-se a ação do pessoal do Duque de Ferro.
Quando os farroupilhas sentiram-se extenuados da luta, e tiveram lugares démarches para a implantação da paz, da correspondência trocada entre Caxias e Bento Gonçalves, resultou a escolha de Bagé para o cenário das conversações. Assentada a data para o encontro entre os delegados rebeldes e o chefe das forças imperiais, para Bagé acorreram, por aqueles, o Pe. Francisco Chagas e Antônio Vicente de Fontoura, e por estes o próprio Caxias.
A seis de novembro de 1844, houve a primeira conferência, dela resultando outra, em quinze de novembro para as negociações finais. Quando Caxias com sua coluna chegou a Bagé para esse segundo encontro, foi recebido pelos habitantes do povoado, que lhe transmitiram a nova vitória dos legalistas sobre os farrapos, nos Porongos, interior do atual município de Pinheiro Machado. Era uma vitória há muito tempo ambicionada pelos imperiais, que não perdiam os passos de Canabarro para um encontro campal, a fim de poderem destroçar a última força rebelde. O Anseio por essa vitória era geral, pois uma derrota que se afligisse a Canabarro representaria um golpe de morte na Revolução e na República Rio-Grandense. Por isso, a satisfação dos bajeenses ao transmitir ao Presidente da Província, a notícia alvissareira. Esperava-se outro tanto do Barão de Caxias, e daí a pergunta do cura da Capela de São Sebastião:
- General, que horas deseja seja entoado o “Te-Deum”? (Cântico de ação de graças pela vitória obtida, que seria a manifestação de gratidão, a Deus, pelo fim próximo da Revolução).
Porém Caxias, que há muito tempo determinara que não se mencionasse nas partes dos reencontros o número de mortos, pois “mortes de irmãos não são títulos de vitórias”, respondeu a seu venerando interlocutor:
- Reverendo! Precedeu a esse triunfo derramamento de sangue brasileiro. Não conto como troféu de desgraças de concidadãos meus. Guerreio dissidentes, mas sinto as suas desditas, e choro pelas vítimas com um pai por seus filhos. Vá, reverendo, vá! Em lugar de “Te-Deum”, celebre missa aos defuntos, que eu, com o meu Estado Maior e a tropa que na igreja couber, irei amanhã ouvi-la, por alma dos nossos irmãos iludidos, que pereceram no combate. Entrou, depois, o Barão de Caxias, pelas ruas de Bagé, aclamado por todo o povo, e, no outro dia, juntamente com o representante dos farrapos, que viera para a Conferência da Paz, assistiu à missa que encomendara.
Caxias queria aproveitar, antes de tudo, a desunião dos chefes farrapos, iniciada durante a reunião da Assembléia Constituinte, para efetivar a pacificação. Sabia que as coisas entre os farrapos não iam bem, unicamente por causa da divisão entre os chefes, e que esta circunstância é que favorecia a paz.
Tão Logo regressou da corte do Rio de Janeiro o plenipotenciário farrapo Antônio Vicente da Fontoura, trazendo os documentos que complementariam as démarches que desenvolvera, passou a insistir para que fosse assinado o documento que finalizaria a guerra. Mas, de parte dos farrapos, foram surgindo empecilhos, adiamentos, que dificultavam o trabalho. Finalmente, na região de Ponche Verde, estavam reunidos os Imperiais e os Farroupilhas. Aqueles se achavam no Passo do Alonso, sobre o Rio Santa Maria e estes em frente ao Banhado da Carolina, atual município de Dom Pedrito. A dificuldade de reunir os chefes farroupilhas, em razão das desavenças existentes entre eles, só foi superada pela pertinácia de Caxias em insistir na obtenção da Paz. No dia 25 de fevereiro de 1845, conseguiram os farrapos ter a sua reunião, sob a presidência do General Canabarro, General em Chefe do Exército Republicano, quando foram discutidas as condições de paz e tomadas às deliberações conseqüentes. Em vista da decisão tomada pela unanimidade dos comandantes, Coube a David Canabarro elaborar e publicar uma proclamação alusiva a paz, dirigindo-se aos cidadãos, que “a continuação de uma guerra seria o ultimatum da destruição e do aniquilamento de nossa terra”, e aponta para um “poder estranho (que) ameaça a integridade do Império”. E conclui: “União, fraternidade, respeito às leis e eterna gratidão ao ínclito Presidente da Província, o Ilmo. e Exmo. Sr. Barão de Caxias, pelos afanosos esforços, que há feito na pacificação da Província”.
Tão logo o Barão de Caxias recebeu os documentos assinados pelos farroupilhas, tratou de lançar a sua Proclamação aos Rio-Grandenses, datada de 01 de março de 1845, no campo de Alexandre Simões, margem direita do Rio Santa Maria:
“Rio-grandenses! É sem dúvida para mim de inexplicável prazer o ter de anunciar-vos que a guerra civil que por mais de nove anos devastou esta bela província, está terminada. Os irmãos contra quem combatíamos estão hoje congratulados conosco, e já obedecem ao legítimo governo do Império Brasileiro. Sua Majestade o Imperador ordenou por Decreto de 18 de dezembro de 1844 o esquecimento do passado e mui positivamente recomenda no mesmo decreto que tais brasileiros não sejam judicialmente nem por outra qualquer maneira inquietados, pelos atos que tenham sido praticados durante o tempo da revolução. Esta magnânime deliberação do Monarca Brasileiro há de ser religiosamente cumprida. Eu o prometo sob minha palavra de honra. Uma só vontade nos una Rio-grandenses, maldição eterna a quem se recordar das nossas dissenções. União e tranqüilidade seja de hoje em diante nossa divisa. Viva a Religião. Viva o Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil! Viva a integridade do Império!”
No dia 2 de março já estava o Barão de Caixas em Bagé, com seu Estado Maior e um grande número de oficiais entre os quais o Coronel João da Silva Tavares. Posteriormente, dia 4 chega Bento Gonçalves ás 11 horas da manhã e ao anoitecer entra Antônio de Souza Netto, que conferenciaram com o Barão.Inicialmente o movimento Farroupilha não possuíra caráter separatista. Seus líderes desejavam o poder de eleger o presidente provincial, de ter câmaras de vereadores, de legislar e de recolher os impostos que deveriam servir para o desenvolvimento local. Conseguiram um acordo de paz bastante razoável, mas não alcançaram a meta de maior autonomia da Província, sua principal bandeira inicial. Contudo, mesmo com o enfraquecimento militar e desentendimento entre os líderes, a pacificação da Província de São Pedro foi conseguida através de um ajuste com o Império e não por meio de aniquilação em campo de batalha. Consequentemente, a certeza de ter mantido a honra e não ter simplesmente capitulado foi um forte legado dos farrapos para a construção da atual imagem regionalista do gaúcho.
Fontes:
Bagé e a Revolução Farroupilha – Tarciso Antônio Costa Taborda
Guerra Farroupilha: considerações acerca das tensões internas, reivindicações e ganhos reais do decênio revoltoso- Laura de Leão Dornelles
A PAZ DOS CARAMURUS, caderno de história nº 14 - Helga Piccolo


Um comentário:

  1. Será que o estancieiro Alexandre Simões dono do campo, não era o filho de Antonio Simões Pires e neto de Matheus Simões Pires, estes de Rio Pardo?

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