segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Combate dos Porongos: surpresa ou massacre?

                                    Cerro dos Porongos, Pinheiro Machado-RS
Por Cássio Lopes

Em novembro de 1844 estava em voga uma suspensão de armas, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz. Condição essa não cumprida por todos os envolvidos. Alguns historiadores, como o professor da PUC de Porto Alegre, Moacyr Flores, atribuem o episódio de Porongos à traição dentro das forças republicanas, para eliminar o grupo de Lanceiros Negros e acabar com um dos principais entraves às conversações da paz. Para ele, "os negros foram traídos em Porongos porque Caxias tinha ordens de não lhes conceder anistia. Levaram os negros capturados em Porongos e os que foram entregues pelos Farrapos para a fazenda de Santa Cruz e para o Arsenal no Rio de Janeiro". Historiadores dessa corrente cogitam que a matança teria sido combinada entre David Canabarro, o principal general farrapo, e Duque de Caxias, representante imperial, para exterminar os integrantes, que poderiam formar bandos após o término da guerra e forçarem a assinatura da Paz de Ponche Verde. De comum acordo decidiram destruir parte do exército de Canabarro, exatamente seus contingentes negros, numa batalha pré-arranjada, conhecida como a Combate dos Porongos. A questão da abolição da escravatura, uma das condições exigidas pelos farroupilhas para a paz, entravava as negociações. A libertação definitiva dos ex-escravos combatentes precipitaria um movimento abolicionista no resto do império, e a mão de obra escrava vinha mantendo a produção agrícola desde os tempos coloniais. Os Lanceiros Negros teriam sido previamente desarmados por Canabarro e separados do resto das tropas, sendo atacados de surpresa e dizimados pelas tropas imperiais comandadas pelo Coronel Francisco Pedro de Abreu, conhecido como Moringue.
Outros historiadores acreditam que a batalha de Porongos, foi um ataque sofrido pelo general David Canabarro – e não armado por ele em conjunto com o imperialista Caxias. Para Cláudio Moreira Bento, historiador e coronel reformado do Exército Brasileiro, autor de 70 livros, a maior parte deles sobre história militar, os Lanceiros Negros salvaram a República Rio-Grandense e o seu Exército de um colapso total, “através de resistência titânica que lhes custou muitas vidas, que contribuíram para a manutenção das condições honrosas de paz com o Império, como foi o Tratado de Ponche Verde, graças a Caxias”.
Vê-se então um conflito de versões. Para uns, Canabarro é vilão, para outros, sofre um ataque inesperado. Isso se deve a uma carta atribuída ao barão de Caxias, instruindo Moringue a atacar o corpo de Lanceiros Negros, que seriam previamente desarmados, e afirmando que tal situação teria sido previamente combinada com Canabarro. Esta carta foi mostrada em Piratini, a um professor ligado aos demais comandantes farrapos. A autenticidade desta carta foi questionada, tomando por base o depoimento de Azambuja Rangel(cunhado de Moringue), a mesma teria como objetivo principal a desmoralização da imagem de Canabarro. Seja a carta verdadeira ou não, o fato é que o combate de Porongos removeu um dos obstáculos mais complicados para o restabelecimento da paz no Rio Grande, uma vez que o império não admitia conceder a liberdade aos negros que haviam lutado ao lado dos rebeldes farroupilhas, o que, segundo alguns historiadores, seria considerado um "mau exemplo" para os escravos de outras províncias.
Tenha sido surpresa ou traição, de alguma maneira os negros farrapos foram separados do resto da tropa. Isolados e portando apenas armas brancas, os Lanceiros Negros resistiram bravamente antes de serem liquidados. O combate de Porongos, onde oitenta de cem mortos foram negros, abriu caminho para a Paz de Ponche Verde alguns meses depois. “Tombam os Lanceiros Negros de Teixeira Nunes, brigando um contra vinte, num esforço incomparável de heroísmo", segundo Cláudio Moreira Bento.
Artêmio Vaz Coelho, integrante do Núcleo de Pesquisas Históricas de Candiota e historiador de Pinheiro Machado, o qual pesquisou durante 15 anos a história do combate e dos lanceiros negros, embasando-se em teses e trabalhos desenvolvidos por diversos historiadores podendo destacar César Pires Machado, Carlos Marino Louzada e Morivalde de Fagundes Calvet, concluiu que a abordagem dos fatos que é feita sobre a batalha tem sido tendenciosa com as insinuações de traição aos famosos lanceiros negros. No entendimento de Artêmio o que ocorreu foi uma fatalidade em que pereceram os verdadeiros heróis republicanos.


7 comentários:

  1. ola, sou de Jaguarao, representante do CTG Rincão da Fronteira. Gostaria de saber a localização geográfica e distância do marco da batalha de Porongos em relação à cidade. Desde já agradeço

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  2. Prezado João Manuel! Obrigado pelo contato. O Cerro dos Porongos e o marco da batalha ficam na Terceira Zona de Pinheiro Machado, a 26 km da cidade.
    Caso necessites maiores informações, mande um email para: nphcandiota@hotmail.com

    Att,


    Cássio Lopes
    Vice-Presidente

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  3. Não faz sentido a versão de que o Império tinha como cláusula pétria na negociação não dar liberdade aos negros chamados ao combate, pois o mesmo fazia isto. Mesmo nesta época a existência de mulatos e negros alforriados eram enorme. Não é verdade que todo mulato e negro era escravos. Tanto que os paraguaios vieram a ser referir aos brasileiro como macacos, negros e anegrados pela missigenação existente dentro do Império. (Coisa proibida no Paraguai) Tivesse o Império traído os negros, não teria condições de prometer o mesmo nas demais lutas de que precisava destes. Seria um tiro no pé e na lógica. Tal fato é tanto verdade que os lanceiros lutaram na guerra do Paraguai. Além de que as tropas no Paraguai eram formadas de negros e mulatos livres, não só de escravos libertos para este fim. Pois esta era a formação demográfica do Brasil. Brancos, negros e mulatos livres e negros e mulatos escravos, estes a minoria. Que negro teria servido depois com Caxias, para o Império ou para Cacabarro se tivessem sido traídos? Eles eram militares sérios e não fariam molecagens que teriam desdobramentos posteriores.

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    1. Mordaz,

      "Molecagens" é um termo um tanto leviano para se referir ao que fizeram... O fato de grande parte dos brasileiros ser miscigenado, desde tempos longínquos, por si só não justifica que não houve massacre deliberado dos lanceiros negros, que, aliás, segundo vários historiadores, entre eles Juremir Machado, eram, sim, negros (e não mestiços) e escravos. Homens livres eram outra categoria durante o Império, ainda que sua pele não fosse tão clara....

      Não questiono a bravura de David Canabarro, pois ela é mais que notória, já a conduta moral dele é questionável, SIM, em inúmeros episódios e referida por DEZENAS de historiadores que, SIM, podemos desconfiar à larga que houve algo "estranho" em Porongos. Afirmar, COM CERTEZA ABSOLUTA, que não houve massacre premeditado é algo que só o faz ou quem tem falta de informação, ou estreiteza de ideias. De minha parte, não tenho uma opinião totalmente formada sobre este vergonhoso episódio que mancha nossa história, mas os indícios contra Canabarro são muito maiores do que os a favor. Para quem estuda História é sempre importante ter uma qualidade, acima de quaisquer outras: a deconfiança, que induz ao questionamento.

      É importante sempre ter alguma reserva das versões OFICIAIS, pois estas - normalmente - tratam de dourar a pílula... É bom pensar e, acima de tudo, questionar.

      Abraços!

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    2. Prezados Senhores!

      A presente matéria foi elaborada justamente para trazer ao lume, as duas versões sobre o referido episódio para que os leitores tirem suas próprias conclusões. Se foi surpresa ou massacre, traição ou conspiração não cabe a nós julgar, o mesmo exemplo serve para a conduta de General David Canabarro. Porém um fato ficou comprovado: A bravura e o heroísmo dos Lanceiros Negros.

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  4. Esta história do massacre dos Porongos, em 14 de novembro de 1844, é totalmente falsa. Foi uma mentira elaborada pelo historiador de esquerda para fomentar o racismo e desmoralizar o Exército. Na verdade, os soldados negros, os bravos Lanceiros Negros, que depois viriam a lutar na guerra do Paraguai, foram heróis que salvaram o comando da revolução ficando para trás para impedir o aprisionamento dos líderes em fuga. Tivesse ocorrido a prisão ou morte dos líderes ali e teria acabado tudo. Não haveria o tratado de Poncho Verde, assinado no dia 1º de Março de 1845, quatro meses depois, porque o Império não precisaria mais negociar a paz. Não haveria alforria porque os negociadores teriam perdido. A Alforria era dada antes de ser incorporado, e não depois. Negros eram libertos para lutarem por um dos lados, e não depois da luta seriam "premiados". Só livres lutavam. Não fossem eles e teriam sido eliminados os revolucionários.
    Que chefe revolucionário ou militar aceitaria perder parte importante de sua tropa aguerrida para confiar no inimigo cumprir a sua palavra quatro meses depois e ser bonzinho? Tivesse ocorrido uma traição, não teria o Exército e a Marinha Imperial como conseguirem negros para as suas tropas, no futuro, pois eles faziam o mesmo uso da alforria para recrutar soldados. A Marinha Imperial tinha enorme contingente de negros libertos, iniciado em 1822.
    Negros eram negros, mas não eram tolos para serem desarmados e serem mandados ficar quietinhos de um lado, isolados. Isto é para desmerecer os negros e o seu papel no evento. Para tratá-los como babacas. Eles estavam armados e resistiram bravamente, junto com brancos, também mortos na ocasião, para impedir o aprisionamento do comando Farroupilha. Nesta época, metade nos negros e mulatos no Brasil era livres. Não tinha porque Caxias ou o Imperador não querer honrar a palavra e se queimar para futuras lutas que necessitaria a participação desta parte da população. Mais da metade. Como ocorreram lutas internas e foi usado amplamente este método pelo Império. Na época da Guerra do Paraguai já existia entre mulatos e negros livres mais que o dobro dos negros e mulatos escravos. Olhe o censo de 1872 para verificar este fato. A própria escolta armada de proteção de Caxias no Paraguai tinha negros para sua segurança, e os Lanceiros, bravos, e não babacas, estavam no Paraguai com as tropas brasileiras. Por isto que nosso exército era chamado de macacunos, cambás. Macacos e gambás, (negros e fedorentos). E o Imperador era o Grande Imperador Macaco. Por sermos um país em que os brancos casavam com negros e produziam filhos mulatos. Coisa terminantemente proibida no Paraguai. Não houve massacre em Porongos, mas mais uma pagina heróica dos soldados negros e mulatos do sul. Na época da abolição menos de 1/5 dos negros e mulatos eram escravos no Brasil. Porque negros e mulatos vinham sendo alforriados.
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    Historiador não deve desconfiar, mas se basear em documentos e fatos. E não usar documentos falso que se tem apenas a "cópia" forjada.

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  5. Isto está no mesmo nível de que Caxias mandara jogar cadáveres de coléricos para contaminar os paraguaios que estam rio acima, e numa época que se desconhecia as bactérias e a causa da cólera. Estando os aliados rio abaixo.
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    Ou que a Guerra do Paraguai foi feita por ordem da Inglaterra, quando Solano Lopez que invadiu o Brasil e Argentina. Solano Lopez preparava um exército invasor há uma década e reconhecera o terreno antecipadamente para invadir. E os Aliados levaram seis meses para reagir, e dois anos para chegar ao Mato Grosso, de tão preparado se encontrava para obedecer a Inglaterra.

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